domingo, 10 de fevereiro de 2013

PORQUE O ANO DA FÉ?


Palavra do Bispo Dom Orlando Brandes
São muitas as razões que motivaram o Papa Bento XVI promulgar o Ano da Fé. Nosso Papa tem uma visão global da realidade da Igreja, no mundo, desde o Concílio Vaticano II até nossos dias. Seus trabalhos no coração da Santa Sé, sua experiência e colaboração no pontificado do Beato João Paulo II, suas viagens e encontros com as Conferencias Episcopais nos diversos Continentes, os encontros sinodais, as visitas dos Bispos do mundo inteiro a Roma, proporcionaram-lhe um real e vasto conhecimento da realidade da Igreja.
Vamos aqui focalizar algumas razões para a promoção do Ano da Fé, nos escritos e ensinamentos do Papa Bento.
1.     A desertificação. Há um deserto interno e externo que assola a humanidade e a Igreja. O deserto interno se concretiza pela negação de Deus, pelo indiferentismo, pela secularização, pelo individualismo. Confusão doutrinal, ignorância religiosa, afastamento dos fiéis da Igreja, a “ditadura do relativismo” são expressões da desertificação interior. O Papa nos convida a uma peregrinação nestes desertos para transforma-los em jardins e oásis. Eis a necessidade da fé. Os desertos exteriores são as desigualdades sociais, a violência, as migrações, a depredação da natureza, entre outros.
2.     A descristianização. Nossa sociedade e cultura não são mais religiosas, mas, secularizadas e indiferentes à dimensão religiosa. Vivemos numa realidade  pluralista, tecnológica, antropocêntrica onde os valores religiosos contam muito pouco. Por outro lado, esta mesma sociedade é altamente destrutiva desde a cultura da morte até à desestruturação da família, o avanço do câncer, a corrupção generalizada, fome no mundo, o flagelo das drogas. É desde “caos globalizado” que emerge a saudade e o desejo de Deus, os valores do reino de Deus e a procura de respostas para o vazio existencial. A fé  quer ser resposta para estas e outras perguntas de homem moderno.
3.     A mudanização dos ambientes cristãos. O consumismo, a vida urbana, o poder da mídia invadem os espaços e os corações dos cristãos e assim caímos na “mundanização da Igreja”, diz o Papa. No sínodo sobre a nova evangelização vários padres sinodais alertaram para a necessidade da purificação, conversão, santificação dos bispos, sacerdotes, religiosos(as), seminaristas. Há como que um “envenenamento do pensamento” afirma Bento XVI. É preciso redescobrir a fé no âmbito interno da Igreja.
4.     A superação da pastoral da conservação e da manutenção, é outra razão para o Ano da Fé. Precisamos passar da sacramentalização, para uma consciência da missão, para uma pastoral missionária que venha desinstalar os católicos do comodismo, da mesmice, do cansaço, da rotina. É hora de implantar um catolicismo bíblico, uma opção fundamental pela Palavra de Deus, uma catequese de iniciação cristã, uma pedagogia das pequenas comunidades e a prática da visitação permanente. Todas estas urgências pastorais encontram inspiração, força, dinamismo a partir da fé. “Se não crerdes, não podereis subsistir” (Is. 7,9).
5.     A desumanização. Crescemos economicamente e teologicamente, mas, involuimos ética e espiritualmente. Eutanásia, aborto, assaltos, mortes no trânsito, maus tratos e crianças, idosos, mulheres, assassinato de jovens, discriminação e exclusão de índios, negros e pobres, caracterizam a desumanização atual.
O Ano da fé quer ser uma resposta, uma luz e bússola para estes e outros problemas e crises da Igreja e da sociedade. A fé abre novos horizontes, aponta caminhos, oferece soluções para as pessoas, as comunidades e a sociedade.

Dom Orlando Brandes

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Renasem 2013 - 3º Parte


“Qual a escolha fundamental que Deus nos pede?”

          Refletindo o ministério do sacerdócio Dom Alberto Taveira, neste último dia de pregação, nos fez refletir qual seria a nossa escolha diante as propostas de Deus. Fomos ao “Poço”, nos “Revestimos de Cristo”, adoramos, celebramos, ouvimos testemunhos, partilhamos nossas experiências e agora, qual a nossa escolha?

            Em nossa caminhada vocacional, tanto religiosa como de leigos, tantas coisas nos fazem afastar de Deus ou, aquela motivação que tínhamos de inicio vai desaparecendo. Por isso, precisamos alimentar nossa motivação. Quantos irmãos que conhecemos desanimaram da caminhada justamente por não “alimentar esta fornalha”, alimentar essas motivações que os levaram até ali, até a presença do Senhor. Muitos entram em crises porque as motivações eram falsas, não eram verdadeiras.

            Neste momento Deus nos convida a fazer uma escolha verdadeira e sincera. Precisamos aprender a ser fieis a esta escolha. Uma pessoa fiel é aquela que esta em constante busca, tem coerência, aceita as “condições” de Deus. Sabemos que a caminhada não é fácil, mas Deus nos disse que jamais caminharemos sozinhos.

Dom Alberto nos apresentou três passos para um verdadeiro discernimento vocacional; Por que desejo? Tenho condições? O que a igreja me diz. Estes passos ele nos apresentou para discernir nossa vocação sacerdotal, mas podemos usar esses passos para meditar as diversas vocações que existem, as diversas riquezas que Deus colocou neste mundo. Seja qual for à vocação que seguiremos precisamos vive-la INTEIRAMENTE. Não podemos ser mais ou menos. Se decidimos seguir a Deus, então temos que seguir a Deus. Não podemos seguir a dois senhores, pois amaremos um e odiaremos o outro (cf. Lc 16,13).

Seguir com decisão eis o que devemos fazer. A luz não foi feita para ficar escondida, precisamos ser fonte de benção e não lago de água parada. Nós não precisamos beber de outras fontes, pois a nossa igreja tem tudo aquilo que precisamos. Nós que, tantas vezes bebemos da fonte de Deus através da Renovação Carismática Católica, precisamos seguir sendo “APÓSTOLOS DA EFUSÃO DO ESPÍRITO SANTO”. Precisamos levar a alegria para tantas pessoas que ainda estão nas trevas, que acham que a vida não tem mais jeito. Precisamos levar a esperança e anunciar: “DEUS está presente e nos ama”. Precisamos levar as pessoas a trilhar um caminho de luz, amor, paz...

De 7 a 11 de Janeiro, nós pudemos experimentar as graças de Deus em nossas vidas, pudemos fortalecer nossa vocação. Espero que você que leu estas reflexões, simples, mais cheio de sinceridade, possa ter percorrido este caminho que trilhamos e sinta que Deus está contigo, mesmo que muitas vezes você não possa senti-lo.

Lembremos sempre de rezar por todos esses seminaristas, para que possam ser fieis ao chamado de Deus. Que Maria, mãe de todas as vocações, possa interceder por todos nós. E deixemos Deus nos falar, deixemos ele nos conduzir. Amém!!!

Renato Aparecido Ferraz Pelisson

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Renasem 2013 - 2º Parte “Vamos nos revestir de Cristo?”


            No primeiro dia Dom Alberto Taveira nos convidava a Irmos ao poço e beber da água que tantas vezes nos saciamos. Mas essa ida ao poço tem uma continuidade. Todas as vezes que paramos para nos fortalecer precisamos novamente sair em missão, não podemos ficar parado. Por tudo isso que no segundo dia fomos convidados a nos “Revestir de Cristo”.

            Precisamos viver o Kerigma (anuncio da paixão, morte e ressurreição) todos os dias de nossas vidas e de nossas vocações. Mas viver no mais profundo daquilo que significa este encontro que tivemos com o mestre. O DAp (Documento de Aparecida) nos diz que o Kerigma não é só o primeiro passo, mas é o fio condutor para a formação do discípulo-missionário. A igreja da América Latina reconhece o quanto é importante viver Kerigma em nossas vidas. Sempre temos que ter em nossos corações esse amor do Pai que perdoa todos os nossos pecados, mandando seu filho Jesus Cristo como nosso salvador, através de uma profunda busca da fé e conversão, uma verdadeira metanóia (palavra de origem grega – Meta= mudança, Nóia= mente), uma mudança de mentalidade profunda, para assim recebermos os dons Espírito Santo e colocar a serviço da comunidade.

            O mundo nos oferece muitas coisas, porém, não estamos aqui para fazer um teatro, não estamos aqui para brincar de Cristãos. Precisamos levar mais a sério as coisas de Deus. “Todos vós que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo” (Gl 3,27), Jesus está presente em nós, somos templos do Senhor e muitas vezes nos comportamos como outras coisas, menos como esse templo de Cristo. Dom Pedro Brito (Arcebispo de Palmas/TO) nos disse que muitos andam “desafinados”, não estão em harmonia com a igreja e sabemos o quanto é ruim um instrumento desafinado num grupo musical, assim também é cada um de nós que formamos um único corpo de Cristo. São Paulo nos diz: “Assim nós, embora sejamos muitos, formamos um só corpo em Cristo, e cada um de nós é membro um do outro”. (Rm 12,5).

            Quando vamos ao poço e somos revestidos do Senhor percebemos que não podemos viver sozinhos, não podemos buscar a “santidade” sozinhos. A unidade é fundamental para todos nós, que estamos com Deus. Precisamos passar da busca da “santidade individual” para de “corpo místico”, de unidade, juntos somos mais. Precisamos ser esta escola para nossos irmãos, escola de vida e santidade. De fato precisamos buscar proclamar esta vitória que vence o mundo, nossa fé, demonstrando no amor para com os irmãos, para com todos que vem em nosso encontro. Jesus quer fazer de nós um vinho novo, e não um vinho qualquer mais o melhor vinho (Jo 2, 1-11).
 
            Busquemos este encontro verdadeiro com Jesus, vamos ao poço para nos revestirmos dele, para vivermos o kerigma todos os dias e levar a outros também viver este kerigma. Vamos buscar essa santidade juntos, afinal como disse dom Alberto Taveira “Nós existimos para os outros”, busquemos então fazer os outros felizes, vamos ser verdadeiramente felizes.

Até a próxima. Beata Elena Guerra, rogai por nós!

Renato Aparecido Ferraz Pelisson

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé


A proclamação do Ano da Fé pelo Papa Bento XVI, no último mês de outubro, e a escolha da temática da fé para orientar os trabalhos da RCC em 2013 são convites explícitos a um testemunho cristão verdadeiro.

alt
Diante de um contexto social, muitas vezes, hostil à fé, aprofundarmo-nos em tal assunto é fundamental para uma vida autêntica.

Por James Apolinário
Presidente do Conselho Estadual da RCC Ceará
Grupo de Oração Água Viva


No contexto social de hoje, com modelos e exigências que conduzem os homens a crerem apenas em si próprios, nas suas capacidades, forças, talentos, planos e dinheiro, viver a fé é um grande desafio. Num mundo permeado de ideologias laicistas, hedonistas e relativistas, a fé em Deus encontra-se muito fragilizada e, na maioria das vezes, se tornou uma fé tradicional, vaga, confusa, subjetiva, superficial, fria e indiferente. O Espírito Santo quer ser o artífice da fé e vem ao mundo de hoje reavivar, dar um novo sentido à vida cristã. E a Renovação Carismática Católica, como movimento eclesial,  estará em 2013 mobilizada na proclamação da fé. Como movimento profético, a RCC em todo Brasil declarará publicamente que a vitória que vence o mundo é a nossa fé (cf I Jo 5,4b). Na tentativa de colaborar na reflexão sobre esse tema, pretendo transcorrer neste artigo a via da fé contida nas Sagradas Escrituras, no Magistério da Igreja e o conceito da fé carismática.

A Fé segundo as Sagradas Escrituras

No capítulo 11 da carta os Hebreus, o autor relata repetidamente que “foi pela fé” que no Antigo Testamento tudo ganhou sentido, foi realizado e criado. O termo “fé” era usado para expressar um relacionamento interpessoal com Deus, num sentido de entregar-se a Ele (Gn 15,6; Ex 14,31; Nm 14,11), de todo o teu coração, de toda alma e de todas as forças (Dt 6,5), entregar-se à palavra salvífica de um Deus que conduz a história. Desde Abraão, a Palavra de Deus já trata da fé (Gn 22,1) provada para mostrar uma obediência fiel à voz de Deus, utilizada para designar o ato de ser firme e fiel. Assim, a fé é um ato pessoal: a resposta livre do homem à iniciativa de Deus que se revela. Ela não é, porém, um ato isolado. Ninguém deu a fé a si mesmo, assim como ninguém deu a vida a si mesmo.  Por isso dizemos que nossos desejos e interesses devem fundir-se com a vontade de Deus, pois eles se manifestam se nossa fé é verdadeira e sincera, repousando unicamente na Palavra de Deus.  Significa também conhecer a unidade e a verdadeira dignidade de todos os homens. Todos eles são feitos "à imagem e à semelhança de Deus" (Gn 1,27).

O apóstolo Paulo nos diz que “O justo viverá pela fé.” (Rm 1,17) – “Porque andamos pela fé e não pelo que vemos.” (II Cor 5,7). A fé, pois, é um elo do humano com o divino para trazer à vida do homem o poder de Deus na luta contra o poder do mal. No Novo Testamento a fé é relacionada de inúmeras formas, mas tendo como único centro a pessoa de Jesus, anunciando incansavelmente o Reino de Deus por palavras e obras num apelo a uma reposta na fé para a aceitação do plano de Deus. Esse plano mostra que o encontro pessoal e direto com Jesus é a fonte de conhecimento da própria existência do homem e de Deus. Que para conhecer Deus e Nele crer, devemos conhecer acima de tudo Aquele que foi enviado por Ele e Nele crer. É necessária uma entrega, um abandono como o coração de uma criança, em virtude dessa mesma fé.

A Fé segundo o Magistério da Igreja

O Papa Bento XVI, em sua carta escrita de motu próprio, ou seja, "de sua iniciativa própria", intitulada de Porta Fidei – indica que a porta da fé , que introduz na vida de comunhão com Deus e permite a entrada na Sua Igreja, está sempre aberta para nós.   A Proclamação do Ano da Fé, iniciado no último dia 11 de outubro, mostra que a identidade própria dos cristãos se dá mediante a fé, via única para o encontro pessoal com Cristo-Palavra e Cristo-Eclesia por assim torna autêntico o testemunho de ser cristão.

A Igreja precisa se opor às "marés de modismos e das últimas novidades” . Na medida em que as mudanças de época atingem os critérios de compreensão, os valores e as referências, os quais já não se transmitem mais com a mesma fluidez de outros tempos, torna-se indispensável anunciar Jesus Cristo, apresentando, com clareza e força testemunhal, quem é Ele e qual sua proposta para toda a humanidade. De um lado é o agudo relativismo, próprio de quem, não devidamente enraizado, oscila entre inúmeras possibilidades oferecidas. De outro, são os fundamentalismos que, se fechando em determinados aspectos, não consideram a pluralidade e o caráter histórico da realidade como um todo. O laicismo militante, com posturas fortes contra a Igreja e a verdade do Evangelho, a irracionalidade da chamada cultura midiática, o amoralismo generalizado. O niilismo definido como a implosão da subjetividade, como uma descrença em qualquer fundamentação metafísica para a existência humana; as atitudes de desrespeito diante do povo; um projeto de nação que nem sempre considera adequadamente os anseios deste mesmo povo.

...a vitória que vence o mundo: Fé Carismática

A fé é um dom que o Espírito Santo colocou à disposição do homem para que ele possa experimentar da onipotência de Deus. Mas, como alcançar a fé que traz a vitória? A Vitória é o resultado de quem luta!

Estamos em luta constante contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares. (Ef 6,12). O mundo, no contexto do trecho de 1 Jo 5,4b,não significa a terra como realidade temporal. O mundo, aqui, significa tudo o que resiste à Obra de Deus, tudo e todos os que não creem. Mundo como a soma de todos os poderes transitórios que se opõem a Deus. A fé como carisma – fé espectante - que todos temos em certa medida, a qual pode ser desenvolvida e tornar-se uma força vencedora na vida do homem, se manifesta quando uma pessoa é movida a ter uma confiança íntima de que Deus agirá precisamente de forma atual. Essa confiança leva a uma oração convicta, a uma decisão, a uma firmeza de atitude, a um ato que libera a bênção de Deus (cf. Mc 11, 22-23; Mt 11, 24; Ex 14, 13-14; 1Rs 18, 20-40).

Urge a necessidade de uma proclamação da fé por todos os cristãos que realiza-se através do testemunho prestado pela vida dos que creem: de fato, os cristãos são chamados a fazer brilhar, com a sua própria vida no mundo, a Palavra da verdade que o Senhor Jesus nos deixou.  “A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê” (Hb 11,1). Essa certeza de que Deus age é tão especial e o resultado manifesta a glória de Deus. A Bíblia nos diz que “Sabendo que a prova da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança” (Tg 1,3). A fé, precisamente, é um ato da liberdade, exige também assumir a responsabilidade daquilo que se acredita. É possível cruzar esse limiar, quando a Palavra de Deus é anunciada e o coração se deixa plasmar pela graça que transforma. A Igreja que anuncia e transmite a fé imita o próprio agir de Deus que se comunica à humanidade dando o Filho, que infunde o Espírito Santo sobre os homens para regenerá-los como filhos de Deus.  Temos que vencer o mundo como Cristo o venceu! "Tende bom ânimo, Eu venci o mundo" (Jo 16,33).

FONTE: RCC BRASIL

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Tema 2013


Renasem - Campinas/SP


Renasem - 1º Parte

“Vá ao poço”

       Entre os dias 7 e 11 de Janeiro, eu e alguns seminaristas de nossa arquidiocese, estivemos no Retiro Nacional de Seminaristas (RENASEM) que aconteceu na cidade de Campinas/SP, um encontro promovido pela Renovação Carismática Católica para padres e seminaristas que descobriram sua vocação através deste movimento. Foram dias de verdadeiro renovar de nossas vocações. Aqui gostaria de fazer algumas reflexões destes dias em que lá estivemos.

            Ao longo de todos os dias o pregador principal era Dom Alberto TaveiraArcebispo de Belém do Pará e Assessor eclesiástico da RCC Brasil, também diretor espiritual do Renasem – que com seus testemunhos e sabedoria nos fizeram ir ao encontro de Jesus, ir à fonte de nossas vocações. Em sua primeira pregação ele nos convidava a “Ir ao poço”, ir à fonte de onde tantas vezes bebemos das graças do Senhor.

Ao longo de nossa caminhada muitas vezes ficamos desanimados, muitas vezes pensamos em desistir, justamente porque esquecemos a fonte de onde tantas vezes tiramos nosso sustento e força. Esta é vocação que escolhemos e por isso precisamos levar as pessoas a beber desta fonte, que é o próprio Deus, mas como faremos isso se nem nós bebemos mais dessa fonte? O carisma próprio da RCC é ser “Apóstolos da Efusão do Espírito Santo”, mas muitas vezes, diante dos problemas, esquecemos que o Espírito está conosco. A palavra nos conta que ao passar pela Samaria (cf. Jo 4, 3-14), Jesus se encontra com a samaritana em um poço, o diálogo que se segue é muito interessante, e ao final vemos a cura que Cristo faz na vida dessa mulher. Ela permitiu Cristo entrar em sua vida. Ali Jesus nos dá a dica de que ele é a fonte de água viva e se bebermos desta fonte nunca mais “teremos sede”.

Quantas e quantas vezes nossa vida se encontra em pedaços, encontra-se destruída, não sabemos que caminhos seguir. Quantas vezes em nossa escolha desanimamos, já não encontramos mais os motivos que nos levaram a tomar essas decisões. Mas Dom Alberto nos recordava que “É preciso entregar os pedaços de nossas vidas para Deus, para que ele possa fazer um bonito Mosaico (embutido de pequenas peças de pedra ou de outros materiais como -plástico, areia, papel ou concha -  formando determinado mosaico)”. É preciso deixar Deus fazer uma linda obra de arte com nossas vidas. Quem não faz este profundo encontro de amor com Deus fica vazio, tudo não passa de uma “casca”. Deus é um deus de misericórdia, sabemos que ele não ama o pecado, mas ama o pecador. O documento de Aparecida nos diz isso, que para sermos verdadeiros discípulos-missionários de Cristo é preciso ter um encontro profundo com Ele. Nossos encontros com Deus muitas vezes é superficial, tanto que nas dificuldades quantos não se afastam dele ou quantos só o procuram diante os problemas.

Muitas vezes não é fácil ir ao poço, pois sabemos que lá teremos que nos deparar com coisas que talvez deixamos no passado, mas não foram resolvidas. Primeiro é preciso resolver, para depois deixarmos no passado. É preciso ser livres diante de Deus e diante das escolhas que fazemos. Na luta contra os espíritos do mal é preciso ter as armas corretas, é preciso tomar uma decisão radical. É preciso fazer como a samaritana e pedir: “Senhor, dá-me desta água...” (Jo 4, 15).

Kátia Roldi Zavaris (Presidente do Conselho Nacional da RCC) nos trouxe uma profecia. Nossa Senhora colocou em seu coração: “Faça TUDO o que meu filho de pedir”. Assim como nas bodas de Caná da Galileia (Jo 2, 5) Maria, nossa Senhora, nos pede para fazer TUDO o que Jesus nos pedir, confirmando assim que é preciso ir ao poço (Jesus), dele receberemos todas as condições para seguirmos em frente, receberemos as armas necessárias. Assim como aconteceu nas bodas, Cristo quer realizar um grande milagre em nós e através de nós. Ou Jesus é TUDO ou não é NADA. Ou somos quente ou frio, sabemos o que acontece com quem fica “encima do muro” (cf. Ap 3, 15-16). Por isso é uma decisão radical seguir a Cristo, não podemos ser mais ou menos.

Sabemos que não é fácil, mas Deus tem um propósito para cada um de nós, por isso é preciso deixar-se tocar por Ele. Somos o amanhã da igreja, somos o seu rosto. Mas só agiremos verdadeiramente com Deus se nossa ida ao poço for constante. Vamos juntos deixar Cristo saciar a nossa sede, para termos a certeza que agiremos no Senhor e não em nós mesmos. A igreja já está muito machucada por pessoas que agem por conta própria, que agem sozinhos. Vamos nos unir, vamos juntos ao poço. Vivendo esta união teremos a certeza que seguiremos firmes e fortes rumos à pátria celeste. Vamos viver juntos a “Cultura de Pentecostes” que como disse o Beato João Paulo II, é a “única capaz de nos levar a civilização do amor”.
 
Ser apóstolos da efusão do Espírito, viver em santidade é beber sempre do poço, da fonte de água cristalina, que é o próprio Cristo Senhor. Fiquemos na paz de Cristo, único capaz de saciar nossa sede.





Renato Aparecido Ferraz Pelisson

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Porque ser padre?


Este é um assunto raramente tratado, algo deixado de lado, pois na sociedade em que vivemos preza-se apenas três coisas: O PRAZER, O TER E O SER.


Pois bem, comecemos pelo Prazer. Preza-se muito nos dias de hoje a busca pelo prazer; seja em bebidas alcoólicas ,no uso de outras drogas lícitas ou ilícitas, no sexo desregrado, no consumismo ou em outras formas diversas, diversas porém vazias. Busca-se, sobretudo o prazer no pecado. O pecado nada tem a nos oferecer, apenas faz com que sejamos usados, até por nós mesmos, como meros instrumentos de prazer, e depois somos descartados; buscamos nos satisfazer com coisas passageiras, pequenas e sem sentido, sentimos sim o prazer, mas logo passa e nos deparamos com o vazio. Muitas pessoas se perdem em vários caminhos em uma busca incansável de saciar os anseios de seu coração, e acabam se frustrando, pois o desejo que há em nós, é o desejo de Deus, assim como a matéria simples busca a forma, nossa alma por natureza tem anseio das coisas divinas, mas muitas pessoas se perdem no pecado, e demoram uma vida toda para perceber que aquilo que buscam é algo vazio. O pecado não poderia jamais nos saciar, pois fomos feitos para algo maior, muito maior. Como poderia uma águia viver a rastejar-se pelo chão?

Depois ainda nos deparamos com a busca pelo Ter. Ter dinheiro, um carro do ano, roupas caras, casa na praia, etc. Acredito novamente que a busca aqui ainda é pelo prazer, o prazer em ter, possuir, como se por possuir mais, fossemos maiores. Em ter, tentamos saciar os nossos desejos, os anseios que há em nossos corações. Vejo tais almas, como águias que mutilam suas asas, e depois, como Ícaro (da mitologia grega), tentam construir asas de cera. Sabemos que estas asas ao voar seriam derretidas pelo sol, mas o problema não é esse. O problema é que com elas, estas pobres almas nem sequer alçam voo.

        Nós somos também tomados pelo desejo do Ser, pois como já disse, Deus nos fez para sermos grandes; como que com asas de águia, para voarmos até Ele. O próprio Deus se revela a nós; elevando-nos a Ele, se rebaixando até nós, fazendo-se homem.
        
Irmãos, Ele nos fez bem mais que águias, não nos fez meros objetos de prazer, mas nos fez à sua imagem e semelhança, nos fez seus filhos... nos fez SEUS.

Por isso este desejo insaciável em nossas Almas. É o desejo de Deus, porque ele nos fez para Ele, porém nos deu o livre arbítrio, Ele não nos obriga a entregarmo-nos, mas nos espera, ele não nos fez para os prazeres deste mundo, mas para os prazeres da alma, que se encontram apenas n'Ele que é a própria Felicidade. Ele não nos obriga a entregarmo-nos a Ele porque ele quer que o amemos, quer que o amemos acima de todas as coisas, de todo o nosso coração, de toda a nossa alma e com todas as nossas forças, e assim nos entreguemos por amor. Amá-lo acima de todas as coisas é mais que um mandamento, é um anseio do Senhor.

O Sacerdócio, a vida consagrada é uma das mais belas formas desta entrega; ou melhor, a meu ver, é a plenitude desta entrega. Esta entrega é bem mais que uma opção de vida, é bem mais que uma escolha, Se entregar à vocação é voar mais alto; É lançar-se aos braços do pai, é seguir Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida; é querer doar-se inteiramente em resposta ao amor do Deus que desde sempre nos amou e também se entregou na cruz, e continua a se entregar a cada Santa Missa, sobre o Altar e por amor; amar é doar-se sem reservas! E esta entrega é fruto de um coração que lançou seu olhar a um tesouro incorruptível, que nada pode desmanchar. Que descobriu que a verdadeira vida está oculta em Deus; é fruto do coração que se deixou preencher pela verdadeira felicidade; é fruto do coração que aspira às coisas do alto.

           Ser sacerdote é querer viver o céu já aqui, é mostrar para outros que há um céu, como a lua que na noite nos mostra que do outro lado, mesmo que invisível, há um sol. Ser sacerdote é aceitar ser o príncipe de um reino que não é deste mundo. É ser como Maria e dizer: "faça-se em mim segundo a tua palavra." É ser como disse Catalina Rivas: "Sacerdote: cordão umbilical de Deus com os homens, que transmitem a graça divina através do perdão e da Consagração Eucarística”. E também como Maria trazer até nós o Salvador, mas de outra forma, trazê-lo sobre o altar, ter as mãos ungidas assim como o ventre de Maria foi fecundo pelo Espírito Santo, ser também de certa forma, esposo do Espírito de Deus, nosso paráclito, nosso amigo, nosso defensor! Pois como disse São João Maria Vianney: "O Sacerdote deve estar envolto pelo Espírito Santo assim como está envolto em sua batina”. Ser sacerdote é ser, como disse São Pedro Julião Eymard: "O Pai de Jesus Sacramentado, o rei espiritual das Almas, um Deus terreno!".

Não, isso não é mérito nosso! Pois somos instrumentos falhos e fracos, às vezes desgastados pelo pecado, mas é pela graça de Deus! É pela sua maior glória que prefere usar instrumentos pequenos para fazer coisas grandiosas. Instrumentos muitas vezes enferrujados pelo pecado, mas que Ele restaura com seu próprio sangue, para produzirmos o melhor. Ser, portanto, sacerdote é na verdade nada ser; é ser apenas alguém apaixonado por Cristo. E o resto? Basta deixa-lo agir em nós!

          Mas neste mundo, cada vez menos pessoas se entregam a este Deus que ama. Muitos fingem não ouvir seu chamado, e não querem responder.

O intuito desta publicação foi responder, ao menos um pouco, uma pergunta: "Por que ser padre?".

Porém eu lhes faço outra pergunta: Porque não ser padre?!

           Deixo então em vossos corações as palavras de São João Maria Vianney:
“Se entendêssemos na terra o que é um padre, morreríamos não de susto, mas de amor”.

Sem. Elton Gabriel Amorim

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Maria, Mãe de Deus


        Mais um ano acabou quantas alegrias, quantas graças o Senhor derramou. Muitos terminaram este ano com atitudes de louvor, outros com a sensação de dever cumprido, outro ainda como se tudo tivesse dado errado e não viam a hora de se findar este ano para que o próximo possa ser diferente. Pois bem a igreja, que segue a voz de seu pastor, Jesus Cristo, nos ajudou muito para que pudéssemos iniciar o próximo ano muito bem. Aqueles que vivenciaram cada celebração, cada momento está preparado para ter um ano de muitas bençãos. Não é pura caso que o ano litúrgico da igreja começa antes do nosso ano civil. A igreja nos ajuda a preparar tudo para que o próximo ano seja um ano de graça e de paz. É preciso que iniciemos o ano com Jesus Cristo. Quantos nesta época fazem promessas e simpatias para que o próximo ano seja bom? Quantos não conseguiram realizar sonhos em 2012 e deixam tudo pra o próximo ano? A solenidade de hoje nos ajuda a refletir se essas promessas e simpatias realmente ajudam ou só atrapalha.
           
Maria, mãe de Deus, é um exemplo de como devemos ser. Uma mulher obediente a Deus, que seguia a risca a sua fé, e sabia que Deus jamais iria abandoná-la. Diz-nos o evangelho de hoje E todos os que ouviram os pastores ficaram maravilhados com aquilo que contavam. Quanto a Maria, guardava todos estes fatos e meditava sobre eles em seu coração (cf. Lucas 2, 18-19). Maria guardava tudo, exatamente tudo em seu coração, porque ela via a ação de Deus em sua vida. Todos os momentos, os bons e os ruins. Ela sabia da escolha que tinha feito e as consequências. Ela se torna a mãe de Jesus, segue tudo o que o anjo havia dito a ela e a José. Por isso desde o século V (431) a igreja declara, como dogma de fé, que Maria é Theotokos (Mãe de Deus), pois Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. A primeira leitura é uma antiga benção sacerdotal que evoca o nome de Deus por três vezes. Já iniciamos o ano com uma benção dado pelo próprio Deus. Por tudo isso é que eu afirmo que não precisamos de simpatias ou outras coisas para que nosso ano seja um ano de paz, precisamos somente de Deus. Sonhamos tanto com a paz, mas fazemos pouco para termos esta paz. Deus é a paz, o papa Bento XVI em sua homilia de natal nos disse: “Onde Deus é esquecido não existe a paz”.

Que Maria, mãe de Deus e nossa, interceda por nós e nos ajude a sermos semelhante a ela. Que busquemos a paz neste ano que se inicia, sejamos obreiros da paz, discípulos de Cristo, fortaleçamos a nossa fé para sermos cristãos autênticos.

            Um feliz ano novo a todos e muitas felicidades.

Renato Aparecido Ferraz Pelisson

   Trechos da Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2013, Papa bento XVI.

 ü  Para nos tornarmos autênticos obreiros da paz, são fundamentais a atenção à dimensão transcendente e o diálogo constante com Deus;
 ü  A paz não é um sonho, nem uma utopia; a paz é possível;
 ü  Na família, nascem e crescem os obreiros da paz, os futuros promotores duma cultura da vida e do amor;
 ü  Incentivo fundamental (da paz) será « dizer não à vingança, reconhecer os próprios erros, aceitar as desculpas sem as buscar e, finalmente, perdoar ».