Na tragédia de 11 de setembro foi usado o nome de Deus, como também, motivações religiosas. Todos sabemos que no seio das religiões existem diferentes interpretações, ideologias, interesses. O islamismo autêntico não concorda com o terrorismo. É uma religião que tem suas raízes em Abraão e tem Deus como único e absoluto. Há grande diálogo entre o islamismo e o cristianismo. Precisamos incentivar sempre mais o diálogo interreligioso. ''Dentre as diversas religiões a Igreja olha com estima os muçulmanos, que reconhecem a existência de um único Deus'' (Concílio Vaticano II).
O islamismo cultiva a oração, a esmola, o jejum e valoriza muitas figuras, símbolos e temas bíblicos. A Igreja defende o direito à liberdade religiosa. Em outubro próximo o Papa Bento XVI irá a Assis, comemorar os 25 anos do famoso ''Encontro das Religiões em Assis'' (1986). Foi um encontro de oração e compromisso pela paz no mundo. Este é o ''espírito de Assis'' isto é proclamar que a religião nunca deve ser motivo de conflito, de ódio, de violência. O tema do Encontro que acontecerá dia 27 de outubro é: ''Peregrinos da verdade e peregrinos da paz''. A busca da paz é um compromisso de todos.
O ''Dia de Assis'' será dia de oração, jejum e reflexão. Haverá momentos de silêncio e recolhimento interior. Em 2002, o Papa João Paulo II incentivou e realizou outro encontro das religiões em Assis, para tornar visível a condenação do terrorismo. Todas as religiões neste evento condenaram os acontecimentos de 11 de setembro. As religiões têm o dever de se comprometer a fornecer no mundo um clima de paz, de justiça, de irmandade e não se deixar instrumentalizar para confrontos entre nações, povos e culturas.
O grande problema das religiões é o fundamentalismo que é uma leitura das Escrituras ao pé da letra, interpretação subjetiva e arbitrária do texto sagrado. O ''literalismo'' trai o sentido literal e espiritual do texto, abrindo caminho para instrumentalizações, manipulações e interesses pessoais ou de grupos. O fundamentalismo recusa o caráter histórico da revelação e tende tratar o texto sagrado como se fosse ditado palavra por palavra por Deus. Ignora, portanto, o dado humano e histórico do texto.
O fundamentalismo leva ao radicalismo e ao fanatismo. O segundo mandamento ordena a ''não pronunciar o nome de Deus em vão'' (Dt. 5,11). Não devemos tentar a Deus, fazer o que queremos usando seu nome santo até para fazer o mal. Há muito abuso do nome de Deus. Isso tudo, além de ofender a Deus, leva as pessoas a desacreditar das religiões. Deus é único, vivo e verdadeiro. É um absurdo matar em nome de Deus. O cristão morre por Deus e pelos irmãos, mas nunca mata em nome de Deus. O mártir doa a vida, mas para preservar a vida dos irmãos e nunca para destruir, matar. O mandamento divino ''não matarás'' é voz de Deus contra a violência e o terrorismo.
Em nossos dias a paz é ainda mais urgente, pois as ditaduras, a fome, as desigualdades sociais e o terrorismo são forças contrárias à reconciliação dos povos. Mais do que nunca precisamos gritar: somos todos irmãos, somos uma grande família, globalizemos a solidariedade e a paz. Como poderia repercutir em Londrina o ''Dia de Assis'', ou seja, 27 de outubro 2011 em relação ao compromisso com a paz? Nossa cidade tem fome e sede da paz, clama pela paz. Somos uma riqueza religiosa na região, podemos ser também juntos colaboradores e promotores da paz.
DOM ORLANDO BRANDES
Arcebispo de Londrina
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