domingo, 15 de janeiro de 2012

O Ano Novo e a graça do tempo


Palavra do Bispo Dom Orlando Brandes
Deus sempre tem tempo para nós. O certo é termos tempo para Ele. Em nossa agenda Deus deve ser o primeiro a ser atendido.

O Ano Novo é mais um tempo que nos é dado. O tempo é dádiva, oportunidade e chance. Uma coisa é o tempo cronológico, o tempo solar, o tempo do relógio. Outra coisa é aquilo que fazemos com o tempo, a consciência do tempo, a vivência do tempo. Neste sentido diz Santo Agostinho: ''Vós sois o tempo''. O tempo depende do sentido que damos a ele. 

É muito comum as pessoas passarem o tempo, ''refletindo sobre o passado, lamentando o presente, temendo o futuro''. A verdade é que o tempo foge, corre galopantemente. O tempo passa a vida é breve, a morte é certa. As rugas e a bengala aparecem. De um lado, precisamos aceitar a realidade do tempo; de outro, cabe-nos vivê-la plenamente. Não deixar as coisas para amanhã, não perder tempo à toa, não empregar mal o tempo, não ser escravo do tempo, é uma arte e uma virtude. 

Nosso tempo moderno é caracterizado pela pressa e pela perda de tempo. Vivemos entre o ócio e o negócio. Uns correm demais, outros matam tempo, outros ainda, perdem tempo. Deus age no nosso tempo, na nossa história. Não dependemos dos astros, mas, da Providência Divina, do ''relógio da Providência''. Não somos escravos do destino, nem do acaso, nem das necessidades. Somos livres e fazemos do tempo o que queremos. Como é bom termos tempo para o lazer, tempo para os livros, tempo para rezar, tempo para encontrar as pessoas. ''O tempo é para o homem, não o homem para o tempo'' (C. Ravasi). 

O tempo também é mestre, é escola. O tempo viaja conforme o andar das pessoas. Uma hora para quem sofre depressão parece arrastar-se, já para os enamorados passa depressa. O tempo para um jovem e para um idoso é bem diferente psicologicamente falando. ''Tudo tem seu tempo'' (Ecl. 3,1). Os adeptos de Epicuro seguem o ''carpe diem'' que quer dizer curtir, aproveitar, gozar. Os seguidores de Cristo têm outra visão, isto é, o tempo é o lugar e ocasião para as boas obras. O bem que fazemos abre as portas da eternidade feliz. É na história humana que se dá a história da salvação. Façamos o bem enquanto estamos no tempo. É assim que preparamos a eternidade, o dia sem ocaso. 

O livro do Eclesiastes (cf. 3.1-8) nos oferece uma profunda reflexão sobre o tempo. ''Tudo tem seu tempo, tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de colher; tempo de matar e tempo de curar; tempo de destruir e tempo de construir; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de gemer e tempo de bailar; tempo de atirar pedras e tempo de recolhê-las; tempo de abraçar e tempo de se separar; tempo de procurar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de jogar fora; tempo de rasgar e tempo de costurar; tempo de calar e tempo de falar; tempo de amar e tempo de odiar; tempo de guerra e tempo de paz''. 

Que 2012 seja um tempo de graça e bênção. A Igreja celebrará a partir de outubro de 2012 o Ano da Fé. Em nosso país teremos eleições. Deus prometeu estar conosco até o fim dos tempos. Duas asas poderão ajudar-nos a alçar voo para um ano feliz: a gratuidade e a alteridade, isto é, a atenção aos outros e a disposição de doar-se. Assim viveremos plenamente este tempo que nos é dado. 

Deus é tão bom e sábio que se adapta aos nossos tempos e caminha no nosso ritmo de andar. Eis a paciência de Deus. Ainda mais, Deus não chega atrasado nem se adianta à hora. Ele vem na hora certa, do jeito certo, com a palavra certa. A mão de Deus nos protege e conduz pelas estradas da vida. Além disso, Deus sempre tem tempo para nós. O certo é termos tempo para Ele. Em nossa agenda Deus deve ser o primeiro a ser atendido. 

DOM ORLANDO BRANDES 
Arcebispo de Londrina 

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